Hospede urbano.
Cai-me o orvalho á limpa cara,
No frio improfícuo da noite,
No corpo, a dor que não sara,
Pois o orvalho gelado não para,
Á aturdir-me, tal ferino açoite.
Sob a bela marquise imponente,
Edifico o meu prosaico leito,
E a poeira asfáltica presente,
Nos pulmões, se faz latente,
Infectando por dentro meu peito.
Escorre nas sarjetas, a lama,
Desta tão fétida civilidade,
Meu sangue, ao menos reclama,
Pois na mesma sarjeta derrama,
O veneno da aprazível cidade.
E nesta insalubre hospedagem,
De tantas estrelas, no céu,
É jardim de cimento, a paisagem,
Já humanos, só de passagem,
E hospedo-me no quarto ao léu.
Quem pagará minha conta,
Quando um dia eu for despejado?
Pois o nada que ganho, não conta,
E a comida, nunca está pronta,
Nem vem, o que tenho desejado.
Oh anfitriões desalmados...
Negas-me de tua civilidade!
Por que sois tão malvados?
Já que tudo, são apenas trocados,
E agora, sou hospede na tua cidade.
Por faustopoti.