A sala estava repleta, os murmurinhos faziam parecer um
grande barulho mesmo em um recinto de silêncio. Doze, eram doze os jurados,
sentados e atentos aos fatos. O magistrado bateu três vezes aquele martelo de
madeira pedindo silêncio.
Após a exposição dos fatos, o juiz interpelou-me de modo
firme, e autoritário.
– O que tem o réu á
declarar?-.
Eu estava atônito com tudo aquilo, não sabia o que dizer.
Estavam todos olhando para mim, sentado no banco dos réus, sendo execrado por
minhas culpas.
- Seu doutor, eu sou culpado por tudo que me acusam! Eu não
aprendi á ler, quando havia boas escolas e tão bem preparados professores. Não
aprendi á falar direito, simplesmente, porque não aprendi a ler. Sou culpado
por nascer no berço da miséria, por ter um pai, que pouco tinha pra me ofertar
(além do carinho possível), de ter uma mãe mal informada, e carente de amor.
Meritíssimo, eu sou culpado, da morte do meu vizinho, que sem rumo, sem
caminho, preferiu enveredar, por uma ida sem volta, pois quando procurou uma
porta, viu ela se fechar. Sim senhor, eu sou culpado, pelo menino drogado, pela
propina que o delegado, recebeu do traficante. Sou, sei que eu sou o
responsável, pelo vicio do alcoólatra, pela bala perdida... Perdida, como eu,
nascido morto, vivendo como um zumbi cambaleante nesse mundo morto de almas
pútridas. Sou culpado, mas não quero ser mártir; sou culpado de fomentar a
riqueza material, de depositar no ofertório os restos das sobras que me sobram,
apenas para mostrar minha generosidade.
Seu doutor eu sou culpado, por ver preso, um magistrado que
roubava o que eu não tenho, e seu doutor, de onde venho, também foi adulterado,
sou nascido do pecado, por isso, seu doutor, eu sou culpado; culpado por meu
pecado. Alem disso, sou culpado, de ver a propagação, dos horrores da nação no
noticiário. Sou culpado; pela renda da viúva sertaneja, que em sua peleja, faz
o milagre da multiplicação. E também sou culpado, pela ilusão da loteria, sou
culpado pela pia, insossa, sem sal, sem açúcar; sou culpado pela conduta do
dizimo amaldiçoado; seu doutor, eu sou culpado, culpado por viver. Seu doutor
eu sou culpado pela desgraça do mundo; pela sujeira do imundo, pela bomba
detonada. Pela louca desvairada, que enlouquece meu amor. Sou eu, seu doutor, o
único culpado, e estou aqui sentado, esperando pra morrer.
Por fausto poti